As semelhanças são incríveis!

No texto a seguir, falaremos sobre uma personagem histórica desconhecida por boa parte dos povos ocidentais, cuja vida e reputação soarão bastante familiares para os fãs de Game of Thrones. A Imperatriz Regente Cixi, mulher que governou a China por detrás do trono por cerca de cinquenta anos e praticamente por conta própria impediu que o sistema imperial entrasse em colapso.

A história de Cixi é fascinante. Ela é uma espécie de figura infame na memória coletiva da China. O Palácio de Verão, que é um dos mais belos exemplos dos excessos cometidos pela dinastia Qing, foi essencialmente construído como um presente para ela, e de acordo com a população local, os excessos cometidos por ela no Palácio custaram tanto para a marinha chinesa que eles perderam Taiwan por isso. E ela não ligou nem um pouquinho para isso.

Mas essa parte não é historicamente precisa. Cixi não foi uma gananciosa Maria Antonieta da China, mas algo muito mais próximo à Cersei Lannister, de GoT: uma mulher determinada a manter sua família e, posteriormente, a si mesma no poder; que podia matar e manipular em busca desse objetivo. E não é só pelo fato de Cixi ter sido uma mulher poderosa que terminou sendo considerada uma vilã (talvez de maneira justa), mas a sua história é realmente muito parecida com a de Cersei.

Imagem: HBO

Nascida numa família nobre em 1835, Cixi não era uma pessoa que alguém apontaria como a futura governante da China. Assim como Cersei, ela entrou para a família real ao ser basicamente vendida por sua família para o homem no poder. Se ao menos Cersei se tornou rainha, Cixi por sua vez, aos dezesseis anos, foi enviada para se tornar concubina do Imperador Xianfeng (esse era o título formal do imperador). Na Dinastia Qing não havia impedimentos para que o imperador dormisse com outras mulheres, e ser uma concubina era uma posição oficial dentro da cidade proibida. Cixi conquistou uma posição mais importante entre elas, inclusive conseguindo um feito que sequer a imperatriz conseguiu: ter um filho do imperador.

Felizmente, neste caso, podemos afirmar que o seu filho não foi resultado de uma relação incestuosa com o próprio irmão. Mas dar à luz ao herdeiro do imperador foi algo enorme, e a colocou em um papel comparável ao da imperatriz, e muito próxima do poder. Era uma época perigosa, especialmente por causa das Guerras do Ópio. Por causa da Segunda Guerra do Ópio, o Imperador Xianfeng foi forçado a deixar Pequim, e posteriormente entrou em depressão, bebendo até a morte. Um feito digno de Robert Baratheon.

Talvez percebendo que seu fim estava próximo, o Imperador reuniu um conselho de oito ministros regentes, que deveriam governar por seu filho de quatro anos de idade. E bem, Cixi não estava incluída no plano, e tampouco estava a Imperatriz Ci’na, que era sua amiga. Por volta de 1860, quando isso tudo aconteceu, Cixi havia se tornado politicamente influente após anos ao lado do Imperador, e armada de um selo imperial, ela conspirou com os príncipes e outros inimigos dos oito ministros para alcançar o poder.

De maneira muito parecida com a forma que Cersei tomou o poder de governar por meio de Joffrey, assim que Robert morreu, Cixi fez um grande movimento quando chegou a hora de levar o antigo Imperador de volta à Cidade Proibida, em Pequim, para seu funeral. Cixi e seu filho chegaram a na cidade antes, encontraram com os conspiradores, borraram os nomes dos Ministros e expulsaram a maioria deles quando eles finalmente chegaram à capital. E por “expulsar”, eu quero dizer que eles foram decapitados publicamente, assim como Cersei fez com o homem que Robert desejava que fosse o regente após sua morte, Ned Stark.

A partir daí, Cixi começou a reinar por detrás do trono de seu filho, o Imperador Tongzhi, de forma tão tumultuada quanto Cersei, mas por muito mais tempo e sem ter que enfrentar zumbis de gelo. Cixi eventualmente se livrou de muitos dos homens que ajudaram na conspiração que a levou ao poder (bem ao estilo Cersei), mas com o crescimento de seu filho, seu controle sobre a Cidade Proibida começou a ser ameaçado, especialmente após o casamento do jovem com uma garota que ele amava muito. O Imperador Tongzhi e sua esposa morreram de forma suspeita e com poucos meses de diferença em 1875. E não deixaram herdeiros. Algo muito parecido com o que houve com Tommen.

Cixi não poderia dar uma de Cersei e se declarar Imperatriz por direito, mas ela ajudou a escolher o novo Imperador figurativo: um primo distante de quatro anos de idade. Com o novo Imperador Guangxu sentado no trono, ela continuou um governo dedicado a combater as influências estrangeiras que buscavam controlar, explorar ou invadir a China. Décadas após a escolha da criança como governante, por causa dos tumultos em 1898, o Imperador Guangxu tentou implantar mudanças de uma forma que Cixi não ficou satisfeita… E então ela garantiu que ele ficasse em prisão domiciliar pelos últimos dez anos de sua vida.

Cixi morreu em 1908, aos 72 anos, dando fim a um governo que não foi apenas definido como recheado de excessos imperiais, mas também marcado por tentativas de impedir o avanço de poderes estrangeiros na China. Isso incluiu seu apoio ao Levante dos Boxers (movimento revolucionário anti-imperialista) e a instituição de diversas políticas no final de seu reinado. O Imperador Guangxu morreu poucos dias antes dela, permitindo que Cixi nomeasse Puyi como o próximo imperador. Ele “governou” por apenas alguns anos, antes que as forças revolucionárias forçassem a China a entrar em um período de mudanças que duraria quase um século.

Puyi foi representado na mídia ocidental como “O último Imperador”, e a imagem de uma criança presidindo a queda de uma dinastia secular foi algo comovente. Mas a história de Cixi é muito mais interessante, e não apenas por parecer ter sido escrita por George R. R. Martin. Essa foi uma história de uma mulher que não ganhou o poder, mas sim o tomou para si. Uma mulher que o manteve sob seu controle por décadas e cuja sombra ainda paira sobre o país.

Não sabemos se o autor de GoT de alguma forma se inspirou na história chinesa em sua concepção de As Crônicas de Gelo e Fogo. O fato de Cixi até soar parecido com o nome Cersei, além de outros detalhes dos livros que guardam uma grande semelhança com a história da China levantam algumas suspeitas. Mas independentemente de qualquer conexão ou influência, um mergulho na história chinesa é um prato cheio para qualquer fã de intrigas, lutas por poder e assassinatos misteriosos. Algo muito mais completo e profundo até do que as histórias de Martin.

E ah, a cereja do bolo da história de Cixi, que pode apelar ainda mais para os fãs de Game of Thrones é a alcunha que ela recebeu: A Senhora Dragão.


Texto traduzido e adaptado do The Mary Sue.

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