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Apesar de Buffy: A Caça-Vampiros  ser considerada por muitos como a mais importante série televisiva dos anos 90 estrelada por uma mulher, Xena: A Princesa Guerreira pode ser considerada uma série mais inclusiva. Essa afirmação não tem como objetivo colocar uma contra a outra, mas sim demonstrar que ambas possuem qualidades que as tornam icônicas e incríveis de sua própria maneira. Superada essa questão, podemos afirmar que o elenco de Buffy sempre foi muito branco e heteronormativo até um ponto muito avançado na série, enquanto Xena sempre possuiu um elenco muito mais diverso em termos de etnia e sexualidade.

Xena e Gabrielle, por exemplo, possuíam uma espécie de relacionamento que surgiu do subtexto e acabou se tornando progressivamente textual. Dentro do universo, elas trocaram diversos beijos, enquanto a série mergulhava na era do fanservice (e mesmo sem confirmação oficial, podemos dizer que ao menos as duas eram no mínimo bissexuais), mas o primeiro grande momento queer da série ocorreu no episódio 11 da segunda temporada, nomeado “Lá vem ela… Miss Amphipolis”.

Neste episódio, Xena entra em um concurso de beleza para tentar descobrir quem está tentando sabotar o evento, assim tentando impedir uma guerra. Na verdade, essa é uma desculpa inventada pelo show para colocar Xena em uma peruca loira com roupas “fofas”.

xena_missamphipolis

Durante o evento, ela conhece a Miss Artiphys, interpretada por Karen Dior – um ator pornográfico bissexual, que se identificava como homem e personificava mulheres enquanto drag queen. Dois anos antes deste episódio ser lançado, em 1995, Dior foi diagnosticado com AIDS e se tornou um ativista sobre o tema.

Apesar da doença ser menos estigmatizada hoje e de haver um melhor entendimento sobre os seus meios de transmissão, nos anos 90 ainda haviam muitas informações erradas sendo espalhadas sobre a doença, especialmente quando se tratava de homens não heterossexuais. Algumas pessoas acreditavam que o beijo fosse uma forma de transmissão da doença. No final de 1995, de acordo com os registros, ocorreram cerca de 4,7 milhões de novas infecções pelo HIV e em 1997, a UNAIDS estimava que cerca de 30 milhões de pessoas eram portadoras do vírus ao redor do planeta. Uma taxa de 16.000 novas infecções diárias.

Neste episódio, Dior, como Artiphys, beija Xena (Lucy Lawless) em um ato que desafiou as noções espalhadas na época sobre os meios de transmissão da doença. E o que hoje pode ser considerado algo pequeno, na época e para as pessoas que conheciam Dior, foi um poderoso momento de solidariedade.

Sem mencionar que, apesar de Dior não se considerar trans, é algo claro perceber que ele se vestia como uma mulher e Xena em nenhum momento julgou ou rejeitou a identidade da personagem como uma mulher.

Apesar da série sofrer limitações e censura sobre o tipo de conteúdo que podia apresentar, ela derrubou barreiras e sempre tentou ser inclusiva, mesmo que apenas na base do subtexto. E foi pela coragem da série que pudemos depois aproveitar momentos como o relacionamento entre Tara e Willow em Buffy.

Infelizmente, Dior faleceu em 2004 de hepatite.


Fonte: TheMarySue

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