Steven Universe é muito bom, mas podia ter sido melhor ainda!

A maravilhosa série de animação Steven Universe, de Rebecca Sugar, chegou ao fim no ano passado. E apesar da série de epílogo, Steven Universe Future (que também é maravilhosa) ainda ser transmitida, está mais do que claro que o arco principal da história foi concluído ao final da quinta temporada. Essa notícia foi recebida com muito pesar e desapontamento – não pelo final ter sido ruim, o que não foi, mas por conta das histórias não finalizadas e oportunidades perdidas.

O conjunto da obra é sensacional, mas não apaga algumas decisões desapontadoras tomadas ao final da série. Como por exemplo o fato de que ela acabou exatamente no ponto mais interessante da história – no ápice da mais fascinante, complexa e importante trama: sobre descolonização, libertação e recuperação.

O último episódio da quinta temporada termina logo após Steven ter finalmente enfrentado White Diamond, governante máxima da autoridade das Diamonds. Utilizando seu superpoder de empatia, ele havia a encarado e mudado sua forma de pensar sobre o militarismo e colonialismo do Império das Gems. Por um momento, parecia que a história ia começar.

Apesar de o processo de White Diamond ter parecido um tanto apressado (da confiança sólida e inabalável para a dúvida, vulnerabilidade e então aceitação, tudo isso em 45 minutos), Steven Universe: o Filme e Steven Universe: Future foram para ainda mais longe disso. Não apenas a parte mais interessante da história foi apresentada de forma corrida, como acabou acontecendo completamente fora das telas. O filme e a nova série nos colocam anos a frente dos eventos de encerramento da quinta temporada, nos fazendo perguntar como de fato as coisas foram feitas e quanta coisa não foi abordada.

Como as Diamonds aceitaram encerrar seu imperialismo intergalático? Quais tipos de processos emocionais elas tiveram que passar até admitir que estavam erradas? Após pararem o avanço sobre as novas colônias, como elas fizeram para liberar as já existentes? Houve sobreviventes? Como esses eventos os afetaram? Após milhares de anos de imperialismo agressivo, gravado em sua história e legado, como base de construção de toda sua sociedade, como as gems responderam às mudanças? Houve culpa? Remorso? Indignação? Por que tipo de processos os soldados tiveram que passar para conseguirem parar? Como a cultura das gems encarou sua própria crueldade e crimes cometidos?

Pensem nos inúmeros exemplos de colonização aqui na Terra: o continente americano, a África e Ásia, os danos permanentes, globais e insuperáveis – o racismo, principalmente – e então multiplique isso por milhares de anos através de diversas galáxias.

Ao pular o processo de descolonização, libertação e recuperação, Steven Universe sugere que a solução para os profundos e permanentes danos do imperialismo é a benevolência. Essa conclusão é perigosa e negligente, pois implica que tudo que precisamos para parar o imperialismo é mudar a mente do líder do processo e fazer com que ele se torne bom. Que tudo que é necessário para o processo de descolonização é simplesmente parar e deixar o povo ser feliz.

Assim, inexiste o reconhecimento dos danos permanentes e geracionais causados por catástrofes desse tipo, e a complexidade de se libertar disso – uma ideia especialmente perturbadora, levando em conta a duração e amplitude do Império das Gems, que sem dúvidas mudou o rumo da história em diversas galáxias.

Em uma série que dominou a arte da complexidade emocional e da gradatividade dos processos, é desapontador ver essa parte da história ser completamente evitada. Rebecca Sugar e sua equipe tiveram uma oportunidade incrível de explorar o que realmente significa encarar e lidar com a cumplicidade na opressão; em como o trauma e a necessidade de sobrevivência afetam os indivíduos ou o que é realmente necessário para libertar tanto os colonizados quanto os colonizadores, e como lidar com os danos causados.

Uma história do tipo não seria apenas fascinante, mas também sábia e esclarecedora. Junto com o resto da série, poderia ter servido como uma visão radical sobre como construir uma nova realidade em nosso mundo, fundada na ética de preocupação e compaixão por todos demonstrada por Steven. Essa seria a oportunidade para brilhar ainda mais, tanto como personagem como quanto série.

Infelizmente, os criadores decidiram pular o que poderia ter sido um de seus melhores e mais importantes trabalhos até então.


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue.

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