Bem diferente!

Os fãs da série animada Avatar: A Lenda de Aang, da Nickelodeon, finalmente puderam assistir ao episódio piloto da série, transmitido pelo canal da empresa na Twitch – e puderam perceber enormes mudanças com relação ao episódio que realmente foi ao ar. O episódio já havia sido disponibilizado como “extra” no DVD da primeira temporada da série, e partes dele estão disponíveis no YouTube, mas a transmissão da Nickelodeon fica marcada como a primeira vez que o episódio foi de fato transmitido na íntegra.

A versão final começa com Katara e Sokka, irmãos da tribo da água do sul, descobrindo um garoto misterioso preso em um iceberg. Após libertá-lo, eles descobrem que se trata do Avatar, que desapareceu há cerca de um século: um dobrador de ar chamado Aang. O príncipe exilado da Nação do Fogo, Zuko, e seu tio Iroh, estão viajando pelo mundo tentando capturá-lo para que Zuko possa retornar para casa, restaurando sua honra. Assim, o episódio piloto acaba apresentando todos os principais personagens da trama, e estabelece a elaborada mitologia da série.

O piloto original, criado em 2003 com o objetivo de vender a série para a Nickelodeon era muito diferente. Apesar de ambas as versões possuírem a mesma premissa central e personagens, elas apresentavam o tom da série de forma muito diferente. Da marcante sequência de abertura até o nosso lêmure voador, são muitas as diferenças entre o piloto original e o piloto televisionado.

A sequência de abertura

A abertura de Avatar: A Lenda de Aang é marcante por um motivo. Narrada por Katara, a série começa demonstrando os quatro estilos de dobradura elemental, desempenhados por mestres dobradores de cada uma das nações. Enquanto isso, Katara explica as origens da Guerra dos Cem Anos, o desaparecimento do Avatar e a teoria de que o ciclo do Avatar foi quebrado. Isso estabelece de forma sucinta a mitologia da série, apresentando o mistério que dá início à história: o que terá acontecido com o Avatar?

Porém, a abertura poderia ter sido bem diferente. Na versão final, por exemplo, vemos as silhuetas dos mestres dobradores na frente das flâmulas de suas respectivas nações. A estilização destaca a fisicalidade de cada dobradura e as habilidades sobrenaturais dos dobradores. No episódio não transmitido, em vez das silhuetas, nós vemos uma sequência animada completamente detalhada de cada dobrador, em seu respectivo reino. Apesar do piloto original nos dar mais informações sobre o mundo, ele não possui um estilo coeso e a dramaticidade da versão final.

Em ambas as versões do piloto, Katara narra a introdução, mas na versão original ela vai muito mais a fundo na história do desaparecimento do Avatar, falando sobre como ela e seu irmão encontraram Aang no iceberg. A sequência termina com Katara falando sobre como Aang deve dominar os quatro elementos para que possa derrotar o Senhor do Fogo, Ozai, e sobre como ela e Sokka se dedicam a mantê-lo a salvo. Ainda que isso não seja ruim, a forma apressada com que o episódio original avança no tempo, ignorando o início da relação dos personagens faz com que isso se torne superficial, algo que é bastante diferente do enredo final da série e o trabalho feito sobre esses relacionamentos.

Aang e o iceberg

O episódio piloto de Avatar também nos mostra o momento em que Sokka e Katara descobrem Aang preso no iceberg, e a descoberta de Aang que ficou preso por cem anos dentro dele, permitindo que a Nação do Fogo começasse uma guerra devastadora. O episódio leva algum tempo explicando a trama que se desenrolará – a jornada de Aang para dominar os quatro elementos, a perseguição de Zuko ao Avatar e sua relação com seu tio Iroh e a necessidade de Aang em viajar para o Polo Norte em busca de um mestre dobrador de água para treinar Katara e ele.

No episódio piloto original, tudo isso acontece na abertura, e o piloto mostra Aang, Katara (chamada de Kya nesse momento, um nome que posteriormente veio a ser o de sua mãe) e Sokka já fugindo da Nação do Fogo montados em Appa, enquanto desviam de bolas de fogo. Em pouco tempo, eles pousam em uma ilha em busca de refúgio. Nessa versão não vemos o desenvolvimento da dinâmica do grupo, mas sim um grupo já estabelecido que segue em direção a um objetivo já estabelecido. Zuko também é bastante diferente; na versão final, ele parece perdido em busca do Avatar, mas na versão original ele já havia o encontrado e seguia implacável em sua perseguição.

A Serpente Marinha

No episódio original, Aang e seus amigos encontram uma ilha para pousar após serem perseguidos pelo Príncipe Zuko, e encontram uma gigantesca serpente marinha os seguindo do fundo do mar. Após o pouso na ilha, Katara e Aang ficam com Appa enquanto Sokka procura por comida e é capturado de forma inesperada pelos soldados da Nação do Fogo. Apesar de a cena da serpente perseguindo Aang e seus amigos não aparecer na versão final do piloto, ela foi reutilizada no episódio 12 da segunda temporada.

Neste episódio, porém, ela encontra um fim precoce nas mãos de Zuko e da Nação do Fogo. Quando Zuko chega ao acampamento da Nação do Fogo, onde Sokka está preso, ele entra no local após os soldados passarem por ele com a cabeça da serpente marinha. A morte da serpente é uma mudança chocante no tom da série. A Lenda de Aang quase nunca mostra a violência da morte, mas o episódio não transmitido dava pistas de um tom muito mais sombrio da série.

Tio Iroh

Uma as melhores partes da série original é o arco de redenção de Zuko, amplamente guiado por seu tio Iroh. E Iroh é um dos melhores personagens da série, sempre dando pitadas de sua sabedoria ao lado de anedotas sobre chá, e acaba tendo um papel crucial no final da história, com os outros membros da Lótus Branca. Na versão final do piloto, Iroh tem um papel crucial ao treinar o Príncipe Zuko na dobradura de fogo, enquanto o auxilia em sua missão para encontrar o Avatar.

Porém, no piloto original, Iroh não aparece em nenhum momento, deixando o Príncipe esquentadinho sem nenhuma orientação. Apesar de Zuko ainda estar perseguindo o Avatar em busca de recuperar a sua honra, no piloto original ele afirma que se Sokka cooperar com a Nação do Fogo, ele poderá impedir que Ozai o machuque, sem mencionar seu exílio em nenhum momento. O desaparecimento do tio Iroh também aponta que o arco de Zuko seria bastante diferente, e faz com que os fãs especulem uma versão bastante diferente de Avatar: A Lenda de Aang sem a participação do tio Iroh.

Momo e o corvo de Zuko

O piloto original apresenta vários pontos que vieram a ser reutilizados em outras partes da série, como a apresentação do lêmure alado de Aang, Momo. Ainda que o verdadeiro piloto comece com a descoberta de Aang no polo sul, ao lado de seu bisão voador, Appa, Momo não aparece até o episódio 3. Porém, no piloto original, Aang já tem também o seu companheiro alado.

E ele não é o único a possuir um animal companheiro. Zuko também possui um corvo, que não existe na versão final da série. Originalmente imaginado como um rival para Momo, o corvo de Zuko é uma parte importante do episódio que não chegou às telinhas. Ele não apenas é o responsável por levar a Zuko a notícia que Sokka foi capturado, mas também passa boa parte do episódio lutando com Momo. E apesar de não ter um animal companheiro na versão final, pelo menos podemos ficar felizes ao lembrar que ele teve a companhia do tio Iroh por praticamente toda a história.

O Modo Avatar

Em vários momentos da história, Aang tem dificuldades em dominar o Modo Avatar, um estado em que ele canaliza os espíritos dos seus antecessores como Avatar, combinando seus poderes sobrenaturais. Sua incapacidade de controlar seu comportamento no modo Avatar e seu medo de carregar tamanho poder é um dos maiores desafios da série, e culmina no momento em que Aang quase é morto por Azula, irmã de Zuko. Antes de Aang aprender a controlar o modo Avatar, ele descobre que ele pode ser ativado como mecanismo de controle quando seus amigos estão correndo risco de morte.

No piloto original, porém, Aang é capaz de ativar o modo Avatar facilmente enquanto enfrenta Zuko, e aparentemente possui o poder para controlá-lo sem dificuldades. Parte disso se deve ao fato que os cocriadores, Michael DiMartino e Bryan Konietzko ainda não haviam finalizado a mitologia da série, e ainda estudavam a melhor forma de incluir o modo Avatar na série. Sabendo que uma grande parte da jornada de Aang envolvia seu medo do modo Avatar, é um pouco estranho vê-lo dominando o poder já no piloto original.

A Lenda de Aang passou claramente por mudanças significativas desde a criação de seu piloto original, em 2003 até o lançamento em 2005. Reescrever o piloto para dar foco na descoberta de Aang por Katara e Sokka, e dedicar algum tempo a estabelecer o início desses relacionamentos ajudou a construir uma base muito mais sólida para o resto da série. Desde as pequenas mudanças, como a troca do nome Kya para Katara, até as grandes, como a adição do tio Iroh, permitem ao piloto original nos mostrar que poderíamos ter uma história muito diferente daquela que amamos.


Fonte: Screenrant

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