Como os avanços tecnológicos aliados às pequenas mudanças no roteiro original conquistaram os nossos corações!

Depois de 15 anos, O Rei Leão voltou ao universo dos cinemas e trouxe consigo muitas mudanças, inclusive na forma de fazer cinema por aí.

É muito difícil assistir ao filme sem sentir-se tomado pela nostalgia da infância, mas é muito importante que olhemos para o filme com outros olhos para entender o quão revolucionário ele foi para o universo cinematográfico.

Animação x “Live-Action”

Diferente de tantos remakes feitos pela Disney, desta vez não estamos falando de um live-action propriamente dito, afinal não rolou captura de movimento nem teve filmagem com animais de verdade.  Neste longa de quase 2 horas de duração, só houve um quadro gravado no mundo real: o resto, desde as paisagens até as texturas, foi criado em computadores.

Os avanços tecnológicos são o grande atrativo deste filme, especialmente pelo fotorrealismo incrível. As paisagens são absolutamente deslumbrantes, com uma riqueza indescritível de texturas o que, aliado à trilha sonora característica da natureza causa uma sensação surpreendente de que você está, de fato, dentro da savana africana.

Outra grande aliada desta sensação é a técnica de travelling, através da qual a câmera apenas gira em seu próprio eixo, sem se deslocar como acontece em filmagens panorâmicas.

o rei leão

Todos estes aspectos juntos causam uma admiração tão grande que em diversos momentos paramos de prestar tanta atenção na história (que já sabemos de cor) para admirar cada detalhe, desde a textura dos pelos de cada um dos animais até a ação do vento nas folhas das árvores.

É claro que o CGI é cada vez mais usada nas produções cinematográficas, mas a tecnologia usada neste filme é inédita. O diretor Jon Favreau definiu sua técnica como um “jogo multiplayer em realidade virtual”, já usava headsets de realidade virtual para explorar as terras africanas e os animais que lá habitam. Além disso, o trabalho foi feito em um ambiente chamado “volume”que é um espaço ocupado somente por um tablado no qual os operadores de câmeras transitavam com aparelhos com sinais infravermelhos e sensores 3D para reproduzir o ambiente virtual e recriar a savana.

Fotorrealismo x Emoções

Por outro lado, todo esse realismo acabou retirando um pouco a emoção das expressões dos personagens e, apesar de ser algo frequentemente apontado pelas críticas, é um dos aspectos que devemos analisar com cautela.

Fazemos tanta questão dessa emotividade porque a antropomorfização na animação é um aspecto bem forte, afinal, é mais fácil de nos identificarmos com os personagens que possuem sentimentos idênticos aos nossos. É como se projetássemos nossas próprias consciências para cada um dos personagens, e é exatamente isto que faz a animação ser tão especial.

Por isso, estamos tão habituados à forma caricata dos personagens da animação que esquecemos que os animais não são tão expressivos assim – dificilmente você vai encontrar um suricato rindo por aí – e a reprodução desta característica dentro do filme mostra mais uma vez a verdadeira intenção do diretor: trazer a história marcante para o mundo real.

Esta comparação é um excelente exemplo da diferença na expressão do personagem

Os personagens que mais mantiveram as expressões da animação foram, sem sombra de dúvidas, Timão Pumba. 

A dupla dinâmica continua com muita personalidade e com diálogos que fazem muitas referências à animação original, com direito a uma versão de Hakuna Matata bem divertida.

E as mudanças?

Comportamento

A diminuição das expressões dos personagens, porém, não deixa o filme sem reflexões. Algo que saltou aos olhos é o retrato do ciclo da vida dentro da natureza e, como dele faz parte as relações de poder. É muito marcante neste longa metragem a submissão das fêmeas, na qual exercem o seu papel de cuidar e proteger a prole, o que passa mais desapercebido na versão da animação, ainda que não tenha rolado nenhuma mudança substancial neste aspecto para o filme. Isto não acontece na natureza porque as alcateias de leões são, na verdade, matriarcais, sendo o sexo feminino o dominante.

A mudança também acontece com o personagem Scar, que teve sua aparência modificada para ser mais fiel ao retrato de um leão em sua posição. Sabemos que não é comum encontrar dois machos dentro de uma alcateia e Scar, como o leão rejeitado, jamais poderia ter a juba preta porque assim chamaria mais a atenção das fêmeas e, portanto, seria o alfa. Assim, por mais que tenham chovido reclamações, a juba preta do personagem não condizia com o personagem e nem com a proposta realista do filme.

Dentro deste parâmetro de comportamento, também vemos uma Nala muito mais participativa e um Rafiki mais reservado, sem tanto misticismo que traduzia um pouco do “pré-conceito” da cultura africana.

Roteiro

E por falar em mudanças, apesar de ser mais longo que a animação, o filme manteve-se ao roteiro original. Os textos quase não sofreram alterações, mas duas delas foram muito perceptíveis.

A primeira é no famoso discurso de Mufasa sobre as terras de seu reino. Na animação, ele as apresenta como Simba como uma propriedade, enquanto no filme as indica como uma responsabilidade – o que tem muito mais a ver com a mensagem toda que ele tenta passar para seu filho.

A segunda foi um belo de um easter egg e rolou naquele momento em que Timão oferece Pumba como uma isca viva e diz “be our guest“, referenciando à famosa música de A Bela e a Fera (fique à vontade, em português).

o rei leão
Cena da animação

As músicas

Já em relação à trilha sonora, rolaram algumas mudanças mas não foi nada que causasse tanta discussão. Além da música inédita Spiritde Beyoncé, teve uma versão estendida de The Lion Sleeps Tonight (Quem Dorme é o Leão, em português) e uma versão reduzida de Be Prepared (Se Preparem), que foi um dos momentos mais sombrios do filme, sem aquela icônica fumaça verde e um bando de hienas dançando – o que realmente tornava toda a situação mais leve para as crianças.

Para além das músicas recheadas de nostalgia para cantarmos juntos, a trilha sonora orquestral de momentos marcantes como a morte de Mufasa e o nascimento de Simba são arrepiantes (e estão disponíveis no Spotify!).

o rei leão

Veredicto

O Rei Leão é, definitivamente, um filme que revolucionou a história do cinema. É muito difícil desligar-se da nostalgia que traz a animação de 1994, mas recomendo que o assistam de coração aberto (e com um lencinho no bolso!) porque surpreendeu de forma muito positiva.

 

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