Vi esses dias a palestra de Colin Stokes – muito boa por sinal – que está circulando pela internet. Nela, ele fala sobre a mensagem que os filmes nos transmitem a respeito de nossos papéis como homens e mulheres na sociedade (você pode vê-la no final do post). O assunto não é novo, mas o que esse vídeo realmente tem de especial é a maneira que ele transmite sua opinião, de forma clara, precisa e direta. Me fez voltar a pensar sobre essas questões e me deu vontade de vir aqui abrir essa discussão com vocês novamente, afinal, é o hábito de refletir sobre temas importantes que nos faz evoluir como pessoas.

No vídeo de Colin Stokes, ele introduz o assunto falando sobre o filme O Mágico de Oz e destacando o quanto ele é diferente do habitual; “o personagem principal” (Dorothy), “o personagem mais sábio” (Glinda) e “o vilão” (Bruxa Má do Oeste) são “todos” mulheres. Às vezes encontramos filmes em que um desses personagens são femininos, mas filmes em que TODOS são, são muito raros. Já no inverso, no qual todos os principais papéis são masculinos, é muito (muitíssimo) mais comum. É só pensar um pouco sobre as principais obras que vem à sua cabeça.

Ele também lembra sobre quando saíram as primeiras notícias sobre Valente, e que a primeira reação de muitas pessoas foi “ah, não… a Pixar vai fez um filme de princesa”. Detalhe, vejam as principais montagens com os personagens da Pixar:

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Notem a proporção de personagens femininos e masculinos e pesem a diferença da importância dos papéis em cada história.

Inclusive a Disney, que é famosa por focar suas histórias em personagens mulheres, apenas recentemente vem mudando a maneira que essas personagens são representadas. Em Frozen, pela primeira vez, a empresa colocou em primeiro plano um amor que não é “romântico”, mas sim fraternal, e mais, entre duas mulheres. Não foi a primeira vez em um filme Disney que uma mulher prioriza um amor que não fosse “sexual”. Mulan foi para a guerra para salvar o pai. Mas aí que está! A animação foca no relacionamento de pai e filha, da mesma maneira que acontece em A Princesa e o Sapo. Em ambos, a mãe tem um papel secundário. (Esse aspecto de Frozen me empolgou tanto que até escrevi um post falando apenas sobre o assunto). Valente também foi uma exceção, a história tem destaque entre o relacionamento entre Merida e sua mãe. Mas quantos filmes/animações vemos com estes aspectos?

Não acho que filmes, jogos, nem nada do tipo mudem o caráter das pessoas, mas quando notamos tantas semelhanças entre o que acontece nos filmes e o que acontece na vida real, devemos parar e nos perguntar se não há algo errado aí. É a velha história de “a arte imita a vida e a vida imita a arte”.

Teste Bechdel

valente teste bechdel

O que é: Um teste simples criado pela artista Alison Bechdel nos anos 80 durante uma conversa com uma amiga em que elas avaliariam filmes considerando 3 quesitos:

1) Há mais de um personagem no filme que seja mulher e tenha falas?
2) Essas mulheres se falam em algum momento do filme?
3) Essa conversa é sobre algo diferente do garoto de que elas duas gostam?

Se a resposta for “sim”, então o filme passou no “teste Bechdel”. Duas mulheres que existem e conversam sobre coisas que não seja homem… Parece absurdo, mas é realmente muito raro de se ver em filmes. Stokes ainda destaca que, em 2011, apenas 11 dos 100 filmes mais populares tinham protagonistas femininos. Reflitam.

Filmes vs. Violência contra a mulher

princesa leia

Notícias informam alguns números bastante assustadores: 1 mulher sofre violência (é estuprada) a cada 12 segundos no Brasil, o FBI chegou a conclusão de que 1 a cada 3 mulheres serão estupradas durante suas vidas. Eu mesma nunca cheguei a passar por esse ato extremo de violência contra mulher, mas já passei por violências físicas menores, que são também moralmente degradantes. E não foi uma, nem duas vezes. Foram bem mais. Além de agressões físicas, existem as cotidianas agressões morais. Já trabalhei em lugares em que eu dava uma opinião e ninguém ouvia, mas um colega de trabalho ia lá depois e defendia essa mesma opinião, aí todos concordavam e destacavam o quanto ele era inteligente.

Não estou culpando os filmes por toda essa violência, mas acredito que, como a maior parte deles é feita por homens, eles reflitam uma forma de pensamento dominante.

Por mais soluções através da paz e menos pela violência

anna e elsa

Voltando ao vídeo de Stokes, ele compara O Mágico de Oz (citado no início deste post) com outro filme que fez muito sucesso anos depois: Star Wars. Neste, existiam basicamente duas mulheres (depois foram aparecendo mais, mas estou falando do primeiro). Como ele diz na palestra, a princesa Leia é legal, mas ela fica basicamente esperando o filme inteiro pelo herói vencer a guerra e no final ela dá a ele uma medalha. Vemos situações parecidas em Senhor dos Anéis, Star Trek e até mesmo Harry Potter, que é escrito por uma mulher (Hermione é uma personagem fortíssima, mas quantas interações com outras mulheres nós a vemos ter?), todos grandes clássicos da cultura nerd/pop. Já Dorothy salva o reino de Oz com mais amizades e menos guerra. E é por esse tipo de mensagem que Colin, eu, e acredito que muitas pessoas, esperamos ver mais em filmes. Não que os citados sejam ruins, pelo contrário, sou grande fã de todos eles. O problema é quando um determinado padrão se torna uma regra.

Concluindo, este post é um reflexão e uma manifestação a todas as pessoas que de alguma forma são responsáveis pela produção de obras de arte. Queremos menos ‘finais felizes’ em que o homem vence a guerra e recebe a garota como recompensa e mais em que homens e mulheres lutem lado a lado, como iguais, para atingir seus objetivos. E, por que não, que mais líderes sejam mulheres e que sejam respeitas em cargos mais elevados?

O Vídeo

Para quem ainda não viu, este é o vídeo em que me baseei para escrever este post. O mais incrível nele é por ser um homem a defender este ponto de vista e defender que os meninos precisam de mais modelos em filmes para compreender que mulheres não são prêmios, mas que podem ser ótimas companheiras. Sei que muitos outros também pensam dessa maneira, mas é que normalmente são mulheres que aparecem defendendo mais essas questões (obviamente porque somos as maiores prejudicadas).

E vocês, como se sentem sobre esse assunto?

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