Acho, só acho, que o título é meramente retórico, ok?

A segunda temporada de Castlevania é definitivamente uma fera diferente de sua curta e afiada antecessora. Seu ritmo é mais calmo, metódico e marcado por uma tristeza angustiante que nem mesmo o banho de sangue monstruoso é capaz de esconder. Mas em uma cena em particular, de frenética fúria de fanservice, a série foi capaz de casar perfeitamente a sua ação e desenvolvimento de personagens para alcançar algo espetacular.

Sabemos que infelizmente o padrão de “boa adaptação de vídeo game” é baixíssimo, de forma que a primeira temporada de Castlevania, apenas por não ser ruim, já se consolidou como uma das melhores tentativas de transferência de um jogo para outra forma de mídia. Mas o sétimo episódio da segunda temporada, “Por Amor”, incluiu uma sequência que os fãs têm esperado desde a confirmação da segunda temporada. É uma chocante mistura de fanservice com a construção de um personagem que efervesceu toda a história da temporada.

– O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS SOBRE A SEGUNDA TEMPORADA DA ANIMAÇÃO –

“Por Amor” começa com Trevor, Sypha e Alucard tendo passado boa parte da temporada longe dos holofotes, escondidos na ancestral biblioteca da família de Trevor, os caçadores de monstros, Belmont. Ali, nossos heróis buscavam os segredos e ferramentas necessários para enfrentarem Drácula, enquanto tentam suportar a companhia uns dos outros, algo que parece mais difícil para Trevor e Alucard. Trevor se irrita com a atitude superior de Alucard (e com o fato de seu pai ser o Drácula), enquanto sofre com a tristeza profunda pela desgraça de sua família, simbolizada pelas ruínas da mansão da família. Alucard, por sua vez, é confrontado pela realidade que a família Belmont gastou gerações de sua existência caçando e exterminando a sua raça, algo que ele mesmo deve fazer, caso consiga derrotar seu pai enlouquecido e movido pelo luto.

Mas após Sypha utilizar um feitiço para prender o castelo movido por magia de Drácula em um lugar (literalmente sobre a antiga mansão da família Belmont), o grupo reúne tudo que aprendeu e segue em direção ao portão do castelo de Drácula, se deparando com uma espécie de guerra civil entre vampiros, enquanto os generais de Drácula se degladiam em busca do poder. Apesar disso, a única coisa que ainda consegue unir as hordas malignas é o fato dos três intrusos, incluindo o filho de Drácula, terem acabado de entrar no castelo. O cenário está pronto, cada lado com suas armas preparadas, e então, finalmente acontece. Uma música familiar começa a tocar ao fundo. Enquanto Trevor, Alucard e Sypha começam seu ataque, uma das peças mais icônicas da trilha sonora da franquia Castlevania completa a cena: “Bloody Tears”.

E isso é ótimo por dois motivos. Primeiro, foi a primeira vez que a série utilizou músicas que realmente vieram dos jogos. Dada a importância da música para a série – como uma forma de conexão metatextual entre as diversas gerações de protagonistas da franquia, além de ser uma das mais memoráveis trilhas sonoras de todos os tempos – é ótimo ver que a série começou a abraçar aquilo que torna Castlevania tão amado em primeiro lugar. Segundo, Bloody Tears é muito foda.

Acompanhada por uma avassaladora rendição orquestrada da música tema, a batalha é também regada de fanservice. Tirando uma briga ou outra durante a temporada, nossos heróis ainda não haviam lutado muito até então. E essa batalha é recheada de referências aos jogos. Alucard luta em sua forma de lobo, utilizando a espada como o familiar de Symphony of the Night. Trevor tem uma oportunidade de usar o chicote da Estrela da Manhã, que é a última forma de aprimoramento do Matador de Vampiros em diversos jogos, capaz de explodir vampiros com um único toque. E Sypha utiliza sua magia de cristal congelado de Dracula’s Curse de uma forma incrível.

É bom. É ótimo. É um momento de pura felicidade que se desdobra, marcado brilhantemente por Bloody Tears. É um momento em que após muito desenvolvimento metódico dos personagens, em ambos os lados da história de Castlevania, a série se solta como na primeira temporada. É um momento de catarse após uma construção lentamente desenvolvida nos episódios anteriores. Mas isso só acontece porque houve a construção de uma tensão narrativa de ambos os lados. A felicidade na batalha do castelo não acontece apenas pelo uso da música dos jogos ou pela hiperviolência visceral da ação, mas porque é uma reflexão simbólica do contraste construído por toda a temporada: as diferentes formas que Alucard e Drácula processaram o luto da perda do vínculo que os unia como família, Lisa Tepes.

Drácula passou boa parte da temporada sozinho, chafurdando em desespero, sem ligar para o fato que seus generais começaram a lutar entre si. Alucard, por sua vez, formou uma aliança, nutriu amizades e ajudou a unir três lendários heróis capazes de enfrentar a ameaça do Senhor da Noite. Sua união vem da forma como traçaram seu caminho entre as tropas de Drácula, e a desunião do grupo de Drácula se revela pela forma como são deixados literalmente em pedaços em seu salão principal.

E ao final de Blood Tears, Alucard, Trevor e Sypha seguem para enfrentar Drácula juntos. E é claro que o seu sucesso contra ele resultará muito mais de seu vínculo do que do chicote poderoso e magia fodona.

Não que não tenha ficado óbvio até aqui, mas nós amamos essa temporada.


Fonte: io9

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