Filme permite que você interaja com as decisões do personagem

Black Mirror, desde o início, traz ao público uma análise do comportamento social e do homem como um produto de uma sociedade tecnológica. Nesse escopo, vimos que série mostra a relação da humanidade com a tecnologia, como isso afeta seu relacionamento com o próximo e como mexe com seu senso de justiça.

 

blackmirror

 

Mas Bandersnatch, o novo filme da série, não se vale desses argumentos na construção da sua narrativa, a priori, com um enredo que se passa nos anos 80, o filme emprega a tecnologia de uma forma externa e não dentro da trama em si.

A trama funciona com uma metalinguagem para trazer o tema das escolhas a tona. Stefan (Fionn Whitehead) é um programador de videogame que está criando um jogo baseado no livro “Bandersnatch” que tem como principal característica dar ao leitor a chance de escolher o final da história.

Se no jogo desenvolvido por ele, o jogador poderia escolher caminhos a seguir, no filme acontece o mesmo, usando um recurso de interatividade, cabe ao espectador escolher algumas decisões que o personagem irá tomar, entre coisas mínimas que não afetam muito o decorrer da história, como qual música você quer escutar ou qual tipo de cereal você prefere comer, e decisões que irão afetar o final da história.

Apesar de ser uma ideia bem interessante, e que com certeza deve ter sido bem trabalhoso de realizar, o filme explora pouco essas opções. Não na quantidade de alternativas que se pode escolher, mas as consequências geradas por ela. Todos os caminhos são interessantes em sua maneira, mas não há uma mudança drástica entre uma e outra, é como se tudo fosse se construindo e ao chegar no clímax acaba, não há um desenrolar muito grande entre o que você escolhe e o resultado final.
escolha

O filme também trabalha com  o conceito de que nossas escolhas não são exatamente feitas livremente. Na sociologia, Durkeihm por exemplo, na sua teoria sobre fato social, exemplifica que podemos agir como quisermos, mas dentro de um padrão já pré estabelecido pela sociedade, por aquilo e aqueles que nos cercam, Ou seja, nossas escolhas são feitas realmente por vontade própria ou são conduzidas por uma força externa ?

No filme, algumas falas ou ações dos personagens nos dizem “você acha que está controlando isso, mas na verdade quem toma a decisão final somos nós”.

Temos controles sobre as ações, mas não somos livres para escolher qualquer coisa, estamos sendo guiados para seguir em uma determinada direção e muitas vezes voltamos para refazer uma escolha, como se obrigados a seguir um caminho que não o escolhido por nós.

Stefan ao desenvolver o jogo, começa a alucinar sobre controle mental, como se uma força tomasse ações por ele (o que faz uma  conexão maior com o público, que pode até ser parte de um dos finais escolhidos), reforçando ainda mais a metalinguagem, agora ele não só está recriando o livro, mas se assemelhando ao seu criador, que acreditava também estar sendo controlado e por fim acabou matando a esposa.

Mas outro caminho que poderia ser seguido era o dos múltiplos universos. Colin Ritman (Will Poulter) o outro programador, que Stefan conhece quando vai apresentar o projeto do jogo, em um cena divaga tanto sobre a questão do controle sobre nossas ações, quanto da existência de realidades paralelas e simultâneas, um tema  promissor, mas que acabou sendo deixado de lado.

No fim, Bandersnatch é uma experiência legal, que trabalha muito bem a metalinguagem, traz alguns momentos de surpresa mas que deixa uma sensação de que poderia ter algo a mais, seja nas consequências de suas ações ou no desenvolvimento da historia.

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