E se você namorasse um stalker? 

Recentemente, chegou na Netflix a série “You” (ou “Você“), cuja história é baseada no livro de mesmo nome da autora Caroline Kepnes (2014) e narra a vida de uma aspirante a escritora chamada Guinevere Beck, que encontra em seus tortuosos caminhos o jovem fofo e romântico Joe Goldberg, que nada mais é do que um stalker que descobre tudo sobre a vida de Beck para fazê-la cair de amores por ele.

Doentio? Você ainda não viu nada.

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História

A trama conta a história de Joe Goldberg, um gerente de uma livraria em Nova York que é vitima do amor à primeira vista pela jovem escritora Guinevere Beck, que compareceu na loja para comprar alguns livros. Através de uma conversa inocente sobre os ávidos fãs de Dan Brown, Joe fixou apenas uma coisa em sua cabeça: Beck precisa ser dele.

Começou com a memorização do nome da escritora em seu cartão de crédito e uma singela pesquisa no Google e o stalker já encontrou todas as informações que precisava: onde Beck trabalhava, com quem se relacionava e, pasmem, onde morava.

Então começa a saga de Joe, espionando Beck e todos os seus relacionamentos. Então, os encontros que, para a jovem escritora, eram apenas coincidências, passaram a ser planos meticulosamente caculados pelo stalker Joe, tudo para conquistar “a garota dos sonhos”.

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Com o tempo, Joe percebe que Beck não é tão rasa quanto parecia e começa a cavar no relacionamento dela com suas amigas e família, descobrindo que, na verdade, o que a jovem escritora busca é muito mais do que lançar livros, mas tentar desesperadamente ser uma pessoa totalmente diferente de quem ela é.

E quando as coisas estão dando errado… Joe acaba tendo que tomar certas atitudes que são um tanto quanto… questionáveis, justificando-se sempre pelo sentimento puro de amor profundo e terno que possui por Beck.

Elenco e produção

Se tem algo que trouxe audiência para a série foi a presença de Penn Badgley (Dan Humphrey de Gossip Girl) e Shay Mitchell (Emily Fields de Pretty Little Liars), para os saudosistas fãs destas séries que se tornaram tão famosas há algum tempo. Além disso, contamos com a presença de  Elizabeth Lail, Luca Padovan, Zach Cherry e John Stamos.

Antes da estreia, o canal Lifetime já tinha encomendado as duas temporadas para a série, produzida por Greg Bertlanti (o mesmo produtor executivo de Riverdale Sabrina). Mas por conta da baixa audiência nos EUA, a Netflix acabou assumindo a segunda temporada.

No geral, a produção é muito boa e os atores interpretam (muito) bem os papéis dos personagens, sem deixar de dar ênfase à trilha sonora – que é importantíssima quando estamos falando em suspense. 

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Crítica

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A série chama atenção pela temática curiosa do universo dos stalkers – afinal, muitos de nós temos uma “quedinha” por produções que envolvem psicopatas, sociopatas… por que não stalkers? A história fica mais interessante quando é contada pela perspectiva do próprio perseguidor, em pensamentos diretos e nada gentis, contrapondo-se às atitudes meticulosamente pensadas para manter a valiosa presa em suas mãos.

Este tipo de narrativa faz com que você se veja várias vezes torcendo por Joe, mesmo sabendo que isso é uma doença bem séria. Há diversos comentários em páginas e posts por aí de pessoas se identificando com certas atitudes do protagonista (e talvez você próprio, ao assistir à série, possa passar por este momento). E o que era para ser assustador, passa a ser abordado com outra perspectiva.

Tudo fica ainda mais intenso quando você percebe que Joe se livra das pessoas “ruins” que existem na vida de Beck: Benji, o “ex-namorado” egocêntrico traidor e desrespeitoso, e Peach, tão obsessiva pela linda escritora quando o próprio Joe, stalkeando-a à sua maneira. E então, você começa a perceber o quão tóxicas são as pessoas ao redor da protagonista, como as outras fúteis amigas (e facilmente enganadas por Joe, como Annika) e a própria família da Beck (tanto os irmãos e mãe, que mal a contatam, quanto o pai, que era viciado em drogas e construiu uma nova família perfeita que ataca a protagonista e se vangloria pelo sucesso da superação do vício), que também desapareceu do mapa em um episódio qualquer durante a trama.

E se partimos para analisar a própria Beck, especialmente quando Joe se relaciona com Karen. Beck acaba se revelando, por algumas vezes, uma pessoa egocêntrica, deixando Joe de lado por diversas vezes, ainda que estivesse sob as garras da “harpia perigosa” Peach. 

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Com o desenrolar da história, chegamos a várias conclusões – e surpresas. Acredito que a grande maioria dos telespectadores não esperavam encontrar Candace, ou que Joe acabasse dando aquele destino a Beck. A série aparentemente busca passar a mensagem de que as experiências que vivemos influenciam na forma como encaramos a vida e em nossas atitudes, como Joe e o próprio Paco. 

Apesar destes aspectos, a curiosidade é grande quanto à segunda temporada, especialmente em relação ao desfecho das mortes que ocorreram durante toda a série. De fato, além deste aspecto, é inegável que a série conseguiu equilibrar bem os momentos de tensão e suspense com algumas pitadas de humor – o que não a tornou tão cansativa no momento de maratonar.

Também não podemos deixar em branco a existência de uma atriz transgênero (Hari Nef, no papel de Blythe) e a narrativa de uma vítima de violência doméstica (embora não tenha um desfecho bacana, como infelizmente ocorre em grande parte dos casos).

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