As tomadas feministas da Disney são complicadas.

Enquanto existem definitivamente motivos para dissecar e analisar, às vezes precisamos de um momento para pensar que, por mais que a Disney queira investir na tendência de empoderamento feminino do momento, ela é uma empresa que quer fazer o máximo de dinheiro possível.

E é exatamente por isso que estamos sofrendo com esses estranhos reboots em live-action que nos deram esse Gênio do Will Smith que parece ter saído de O Espanta Tubarões, diretamente para o novo trailer de Aladdin. E o trailer me fez reassistir o filme original de 1994 e lembrar de uma coisa muito estranha:

A princesa Jasmine tem apenas quinze anos.

QUÊ?

A idade das princesas da Disney é bastante… Intrigante. Quando você é uma criança, todas elas parecem adultas. Uma adolescente e uma adulta não parecem tão diferentes no seu campo de referências. Salvo caso isso seja dito explicitamente, por que você olharia para Jasmine e pensaria que ela é uma adolescente?

Ariel pelo menos afirmou que tinha dezesseis anos de idade (e que certamente não era mais uma criança, papai Tritão!) para tornar claro a todos os homens tarados que ela era de fato, uma criança. Levou um bom tempo pra eu perceber que a Ariel estava nua naquela praia e que por sorte, Eric não apareceu mais cedo. Porém, mesmo Ariel, com seus longos cabelos vermelhos esvoaçantes e a barriga a vista, passa a maior parte do filme coberta e sua nudez é tratada como inocência infantil.

Em contraponto, Jasmine é muito sexualizada em seu filme. Há pelo menos duas cenas em que ela age de forma “sedutora”: uma para sacanear Aladdin por ser um idiota disfarçado e outra para distrair Jafar com seu corpo.

A idade de Jafar não é conhecida, mas claramente se trata de um homem de meia idade, e a cena também demonstra como os animadores homens sexualizam personagens adolescentes de uma maneira estranha. Jasmine é, independente de qualquer coisa, uma criança. As roupas que ela veste, a forma como seu corpo é animado e as situações que ela é forçada a lidar (casamento forçado no seu aniversário de dezesseis) são adultos demais para um filme infantil.

Não quero destruir a sua infância com discurso feminista, ou afastar as coisas que tornam Jasmine tão incrível: ela é doce, corajosa e o desenho animado de Aladdin permitiu que ela pudesse ser uma heroína de sua própria maneira. Mas precisamos abordar a forma como o filme decidiu que a sua sexualidade deveria ser parte da personagem. Quando pensamos sobre personagens animados da Disney, aqueles que se destacam pelo excesso na sexualização são Kida (Atlantis), Jasmine e Esmeralda (O Corcunda de Notre-Dame).

Dismorfia corporal surge de algum lugar, e apesar de não jogar essa responsabilidade toda sobre a Disney, a empresa tem um papel importante com os tipos corporais que apresentam, e a forma como os sexualizam – especialmente nas princesas não brancas, que tem uma tendência muito maior de ser sexualizadas do que as outras.

Jasmine é uma das melhores princesas da Disney, mas quando pensamos em seu espaço fora do filme como a primeira princesa não-branca da Disney, uma mulher muçulmana, e uma adolescente que tem um papel importantíssimo no filme, é importante que pensamos criticamente sobre o que pode ser feito para aprimorar a personagem em suas próximas encarnações. Sua aparição em Wi-fi Ralph, como uma mulher de pele mais escura e com detalhes raciais mais destacados do que o normal foi incrível.

Mas essas roupas com espartilho do filme em live-action não parecem nem de longe um aprimoramento…

Jasmine-Outfit

Eu posso viver com o fato dos filmes antigos da Disney sendo preservados como textos de sua época, argumento utilizado nas discussões culturais e sociais na academia, mas se estão fazendo reboots, nada mais justo do que tentar entender os pensamentos e críticas do momento em que são feitos.

Ou então, pelo menos façam com que Jasmine seja uma adulta. PELO AMOR!


Texto traduzido e adaptado do TheMarySue. Imagens: Disney

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