Fada sensata.

Quando foi lançado em 2013, Frozen se tornou um fenômeno mundial, apesar de não ser um filme livre de problemas. Não, não estamos falando sobre aquela terrível música que enrola a segunda metade do filme (e mais outros infindáveis anos escutando ela, se você trabalha com crianças ou é parente de uma), mas sim sobre a forma com o filme lidou (ou não lidou) com o uso de elementos da cultura indígena escandinava. E apesar de o primeiro filme não reconhecer os povos indígenas da Escandinávia, Frozen 2 está colocando eles no centro da história, com a bênção e a cooperação do povo sámi.

O texto a seguir contém pequenos spoilers sobre materiais já publicados de Frozen 2 e especulação com base nestes materiais. Então, salve o texto para ler depois de assistir ao filme.

A cultura indígena tem sido parte da marca de Frozen desde o início. Lembram daquele “na na ya hey ah na” no refrão da abertura do filme? É uma melodia evocativa chamada “Vuelie” e é baseada na antigamente proibida música vocal indígena dos sámi da Escandinávia, conhecida como jolk. “Vuelie” foi composta e adaptada pelo músico e compositor sámi do sul, Frode Fjellheim. É uma versão de uma música mais antiga intitulada “Eatnemen Vuelie” (“O Som da Terra”). É uma boa forma de começar o texto, porque o uso dessa música causou controvérsia e confusão entre os públicos e povos indígenas quando a animação foi lançada.

Houve também muita discussão sobre a diversidade em Frozen e a falta dela naquela época. Nenhuma mulher realmente teve falas, senão Anna e Elsa; não havia pessoas de outras etnias; e o filme utilizou temas e músicas do povo sámi sem qualquer reconhecimento deles. Junto às músicas, Kristoff, o vendedor de gelo apaixonado por renas, utilizava roupas com detalhes desse povo, que são criadores de renas. Kristoff poderia ter sido sámi, uma vez que muitos deles têm aparência “norueguesa”, por causa da miscigenação, mas ainda assim Frozen foi um filme excessivamente branco. Mesmo utilizando a sonoridade e visuais ligados à cultura indígena.

Mas agora, seguindo para a produção do desenho, finalmente as coisas estão sendo bem diferentes. O filme conta a história de Anna, Elsa, Kristoff e Olaf em uma jornada pela floresta encantada ao norte de Arendelle, tentando descobrir o porquê dos poderes de Elsa estarem causando coisas estranhas, e talvez entender sua origem. Isso faz com que o grupo encontre o povo fictício de Northuldra, que é baseado nos sámi, assim como cidadãos presos de Arendelle, liderados por Mattias, um personagem negro.

Com o objetivo de tentar representar de forma sensível um povo baseado nos sámi, a Disney firmou contrato com diversos representantes, visando afirmar sua propriedade sobre a própria cultura, e trabalhou junto com eles para garantir que o filme represente de maneira respeitosa os povos indígenas. E isso é um imenso avanço. Tanto isso quanto a inclusão de um personagem negro e diversas mulheres são indicativos de que o estúdio realmente ouviu as críticas recebidas por Frozen e se adaptou para melhorar.

Ao que parece, a Disney está lidando com diversas das críticas recebidas pelo primeiro filme – tanto de falhas no enredo e falta de diversidade – e corrigindo nesta sequência. O novo filme não apenas deverá responder muitas das perguntas levantadas pelo público, como a origem dos poderes de Elsa, mas também expandir o mundo da história de diversas maneiras. Infelizmente, os trolls ainda estão por aí.

Frozen 2 não é apenas sobre Elsa e o grupo aprendendo sobre povos indígenas e salvando eles. É sobre a reconciliação e diferentes culturas encontrando um espaço em comum. Entrando no terreno da especulação, e com base em algumas leves pistas fornecidas pela versão do Grande Livro Dourado, que está disponível na internet, é possível que a mãe de Anna e Elsa seja uma dos Northuldra, de forma que Anna e Elsa seriam parte indígenas. Esperamos que a chave para salvar o dia seja o aprendizado dos personagens sobre quem eles são e a celebração de seus próprios poderes.

Ainda existem algumas coisinhas que temos de reconhecer. Apesar de vários dos personagens serem indígenas (ou parte), nenhum dos dubladores conhecidos são. Isso é algo perdoável com personagens já conhecidos, mas não seria algo legal a Disney passar por tudo isso para contar uma história com elementos indígenas e não se esforçar para ter algum membro indígena em sua equipe de dublagem, como fizeram em Moana.

Porém, o estúdio parece ter aprendido com a experiência de produzir Moana. Além do trabalho com os representantes dos sámi, o filme também receberá dublagem na língua deles (como aconteceu com as línguas Maori, Taitiano e Havaiano). Eles também participarão em iniciativas de aprendizado cruzado cultural.

Resumindo, a notícia de que a Disney se dedicou à comunicação e ao trabalho com os povos indígenas durante a produção do filme me deixa feliz e esperançosa pelo filme e pelo futuro inclusivo do cinema.

Estou realmente empolgada para ver Frozen 2, que lança nos cinemas brasileiros em 2 de janeiro de 2020.


Fonte: TheMarySue

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