E outra: já não tem filme demais dessa franquia?

O vigésimo quinto filme (é, é isso tudo mesmo) de James Bond, Sem Tempo para Morrer, chegará aos cinemas no dia 9 de abril, e pelos trailers parece ser um filme ok. Fora a parte tosquíssima de ir no Twitter pedir artista pra fazer trabalho arrombado:

Enfim.

Como parte da turnê do filme, a produtora Barbara Broccoli, que junto de sua família, é a dona dos direitos sobre o personagem, compartilhou seu pensamento sobre Bond e o futuro da franquia essa semana, em uma ampla entrevista concedida à Variety.

Com a saída de Daniel Craig da franquia, a principal pergunta era sobre quem poderia suceder o ator, e qual seria a sua aparência. E a resposta foi algo do tipo… “qualquer um, desde que seja um homem”.

Broccoli falou de forma bem clara:

Ele pode ser de qualquer etnia, mas será um homem. Eu acredito que devemos criar personagens para mulheres – personagens fortes e femininas. E não estou particularmente interessada em pegar um papel masculino e fazer uma mulher interpretá-lo. Eu acho que as mulheres são muito mais interessantes do que isso.

E neste caso, precisamos concordar com ela – não apenas porque Broccoli está certíssima ao afirmar que devemos criar mais e melhores personagens femininas, mas também porque James Bond é um daqueles personagens que é realmente definido por seu gênero. Ele é o epítomo da masculinidade tóxica.

James Bond não é um personagem de verdade. Ele é um arquétipo. Uma espécie de amálgama de estereótipos e tropos que são tão vazios que podem ser interpretados por um homem diferente em cada geração.

Apesar de Daniel Craig ter trazido alguma (necessária) profundidade e equilíbrio ao personagem com sua angústia mal-humorada, se você olhar com calma, Bond é apenas um mulherengo cuja principal habilidade na vida é matar coisas e parecer “maneiro” enquanto faz isso.

O personagem foi criado várias décadas atrás por Ian Flemming, e o fato dele ser uma cifra é o que permitiu que seja reinventado e reimaginado tantas vezes, desde que os filmes tenham os mesmos aparatos: carros caros, armas, apetrechos, vilões vaidosos, e mulheres definidas por sua disponibilidade sexual a ele – as “Bond Girls”. Isso era gritante nos anos 1960, quando Bond se tornou grande, mas hoje podemos ver o que ele realmente é: basicamente um estereótipo de personagens de ação vestido em um terno caro.

Romântico, né? Só vomitei um pouquinho aqui.

Isso não quer dizer que os filmes do agente não possam ser interessantes ou divertidos, mas ele é uma “relíquia” de um tipo que uma mulher jamais seria, porque ele existe como uma pessoa que usa sua masculinidade como uma arma e deixa isso defini-lo. Ele é uma ideia, claramente – uma completamente ultrapassada.

Ele é o “homem ideal” de uma era passada: capaz de levar para a cama uma infinidade de mulheres sem qualquer esforço, capaz de matar sem remorso algum e manter os seus sentimentos (se é que tem algum) confortavelmente trancados a sete chaves. Ele se apaixona de vez em quando, o que nesse mundo, significa abandonar a vida de 00. Essas mulheres sempre acabam morrendo ou virando vilãs, de forma bastante conveniente, para que ele possa voltar a pular de cama em cama.

Bond é tudo que os homens ouvem dizer que devem ser: promíscuos, exceto quando encontra a mulher certa (e descartável), sem sentimentos, violentos, inteligentes e corteses. Ele é um padrão de estética, a ideia de charme e classe com uma profunda violência e um recheio absolutamente misógino. Em resumo, ele é um espelho do patriarcado.

Então, sim. James Bond não pode ser uma mulher e nem deveria. Seria interessante ver um James Bond que não fosse branco, e ver como o estilo e (falta de) substância se traduzem em alguém que não opera com a ajuda do privilégio branco. Ou então um Bond abertamente bissexual, porque só tivemos algumas “provocações” em 007 – Operação Skyfall. Mas não será um problema que Bond nunca venha a ser uma mulher.

O ponto mais empolgante do próximo filme porém serão as mulheres que estarão próximas ao protagonista no novo mundo de Sem Tempo Para Morrer, incluindo Lashana Lynch como uma nova agente 00. Ela já foi apresentada como a antítese da velha guarda representada por Bond, e eu gosto dessa ideia.

Bond – o homem e a ideia – precisa ser confrontado em um novo mundo, e reexaminado pelo que é, e talvez o próximo filme faça isso.


Fonte: TheMarySue

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